terça-feira

Eu e você

Bianca Alves


Quero ver você ficar depois da festa

Quando todos forem embora

Quando os balões estiverem estourados

E do bolo sobrar só o glacê

Caixas de som no chão

Minha roupa não será uma novidade, nem a minha beleza

Só eu e você

Sem enfeites, amigos ou trilha sonora

Eu e você

Sem edição

Sem frases de efeito

Eu e você

Sem marcas, roupas, discursos e poesia

Eu e você

Em carne crua

Procurando o inédito, o que o outro ainda não tocou

Sem construções poéticas, míticas, literárias

Amando no seco, amor sem definições, roteiros, citando, Drummond, “Amor foge a dicionários e a regulamentos vários”
Quero amar o monstro que te habita
Quero amar o que me assusta, o que já me fez não querer, ontem, outrora, outros
Quero você acordando em pele, com cabelos desalinhados, rosto amarrotado, só depois vou te enfeitar dessa matéria humana,que tanto nos engana, quero antes o que tá dentro, o que só eu vi, sabe?
Quero as coisas no estado de rebentação, prontas pra nascer, puras, translúcidas, quero ver seus órgãos

Só eu e você

A única pessoa capaz de escutar minhas frases tortas, bobas, como se fossem poesia, só a intimidade produz isso, só a intimidade perdoa o que me humaniza, o que me torna comum.
Quero ser uma mulher comum
Sou uma mulher comum
 Vem, me dispa dessa capa,casca, de poetisa, intelectual, sei lá, quero amar como as lavadeiras, que lavam as roupas de seus homens com lágrimas, músicas e sabão, amar é ficar do tamanho do outro, sem competição, sem largar na frente, quero a glória da chegada de mãos dadas contigo.

Só eu e você

No final de tudo
No silêncio de tudo

Eu e você

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""Erótica é a alma""

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