Sou um produto do meio

Bianca Alves

                            Foto da minissérie, Grande Sertão: Veredas, gravada em 1985

Como começar algo pensando em não falar de amor, se sou todo amor, até me despedindo dele me faço capaz de senti-lo de novo, novo, já me falaram sabiamente que eu amo mais o amor que o objeto amado, amando, discordo, divago, sou um produto do meio, a sociologia certamente combateria isso, todos são capazes, mutáveis e agentes transformadores do meio, desculpem senhores, filósofos, antropólogos, pensadores, sábios e poetas, mas, em matéria de amor eu  não aprendo, me prendo, tenho orgulho de falar que não sei no amor, sou uma analfabeta funcional de suas escrituras, li quase tudo, dos romances, dos poemas, das cartas trocadas na clandestinidade,  dos amores interrompidos, como sei, posso te falar de:

Laila e Majnun(literatura árabe, um amor louco, visceral )

Romeu e Julieta (um clássico do amor trágico)

Tristão e Isolda(uma lenda do povo celta)

Teobaldo e Diadorim (Grande sertão: veredas, o amor no cangaço, no cansaço, disfarçado, ainda assim, amor)

Carlos Eduardo e Maria Eduarda (Os maias, de Eça,os irmãos sem saber, se amam, é impossível julgá-los)

Florentino Ariza e Fermina Daza (O amor nos tempos do cólera, do meu mestre,Gabriel Garcia Marquez, um amor que espera 53 anos, pra se realizar no outro)

Clara e Esteban( A casa dos espíritos, ele nunca conseguiu tocá-la, passou anos tentando penetrar nela de uma outra forma)

Bentinho e Capitu (Dom Casmurro, posso ver os olhos da moça, olhos de ressaca, já desejei Capitu, já fui Bentinho, só não fui Machado) 

 Tereza e Thomas( A insustentável leveza do ser, o amor revela-se quando o outro se mostra frágil, a possibilidade de compartilhar o leito do ser amado, muda tudo)

...

 Nossa, são tantos, todos eles ainda me acordam de madrugada,me pego catando suas significações, sentidos, posso falar por horas sobre esses amores, bravios, delicados, meus, sei contar detalhes, adoraria ter filhos pra isso, os faria querer o amor por meio dos amores que li, vi, toquei...

Agora se alguém me perguntar se sei amar, se sei no amor, se tenho experiência pra vivê-lo, se sei como evitar a dor, se eu conheço um final feliz, se é possível parar de senti-lo, te direi, nobre transeunte...

DO AMOR?

EU NÃO SEI...