quarta-feira

Caio Fernando Abreu

Quadro: Torre de Babel,Bruegel, 1563

"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e,
de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo.
Tão inesperada quanto a vontade de ferir,
e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade.
Mas é mais frustrante.
Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto.
Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos,
apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro.
Sempre o mesmo círculo vicioso:
da solidão nasce a ternura,
da ternura frustrada a agressão,
e da agressividade torna a surgir a solidão.
Todos os dias o ciclo se repete,
às vezes com mais rapidez,
outras mais lentamente.
E eu me pergunto se viver não será
essa espécie de ciranda de sentimentos
que se sucedem e se sucedem
e deixam sempre sede no fim."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

""Erótica é a alma""

Adélia Prado