segunda-feira

Elias, um sonhador

Adorei essas matérias

05.01.2006

Favelado corre por casa nova

Na corrida mais famosa do Brasil está depositada toda a esperança do desempregado Souza Elias Ferreira, 35 anos. Morador da Favela da Rocinha, localizada no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo, Elias pretende conquistar o primeiro lugar da prova - e o prêmio de R$ 21 mil - para construir um novo barraco. O seu escorrega, a cada dia, rumo ao córrego Águas Espraiadas. "Eu sei que o dinheiro não é muito, mas vou tentar ganhar. Meu barraco está cada vez caindo mais", explica.

O barraco do pernambucano Elias, onde vivem mais seis pessoas - mulher, filhos e enteado - , está na parte da favela conhecida como Minhocão. Ao estilo das palafitas, as casas de 93 famílias são sustentadas por pontaletes de madeira, fincados na margem do córrego. As sucessivas enchentes, porém, têm provocado erosão e os barracos estão prestes a cair.

O último alagamento foi no início de dezembro e vários casas desabaram. "Foi quando eu tive a idéia de ir para a São Silvestre", admite. Os R$ 55,00 da inscrição foram dados pela mulher. "Ela disse para devolver quando ganhar a corrida", diz Elias. Nas ruas de São Paulo, desfilará com o número 307 no peito e nas costas.

O chip entregue pela organização da corrida, que serve para marcar o exato tempo do atleta, porém, estará preso na bermuda. Elias correrá a São Silvestre descalço, da mesma maneira que treina e anda pela favela. "Eu tenho tênis, mas me machuca", conta. Ele já disputou a prova outra vez, em 1998. Terminou a corrida, mas não lembra em que posição. "Acho que uns 3 mil passaram na minha frente."

Entre os bicos que faz, recolhendo materiais recicláveis, o corredor se prepara. Por volta do meio-dia e no início da noite, Elias pode ser facilmente encontrado na Avenida Roberto Marinho ou na bicicleta ergométrica que tem em casa. Por dia, são cerca de quatro horas. "Já tentei correr até passar mal, desmaiar mesmo. Como não aconteceu nada, acho que estou bem preparado."

Quem aplaude a persistência de Elias é a líder comunitária Elizabete Gonçalves, da Associação de Mulheres de Luta da Rocinha. "Ele merece ganhar e sair daquele lugar. Somos favelados, mas merecemos uma moradia digna."

Matéria do JN

No quarto dia de chuva, mais de mil pessoas já estão desabrigadas em São Paulo

A chuva tornou leve o que é pesado. Criou novos nadadores, exigiu corda para a travessia de pedestres.

o céu, as nuvens se derramam. Na terra, escorregam as casas dos homens. Em São Paulo, 36 mil casas estão encravadas em encostas, margens de córregos, prontas para a tragédia.

“Infelizmente a paisagem que a gente está vendo nas grandes cidades, nas metrópoles é esta paisagem de crescimento das cidades com este padrão, padrão de favela, de risco, de insalubridade. Então é um cenário muito triste para o país”, diz Agostinho Tadashi, geólogo/IPT.

No lugar dos córregos novas casas se levantam. Na beira dos córregos as casas se entortam, se equilibram em frágeis estruturas.

“A área de cima já está para cair, então eu tenho medo de cair em cima dos meus filhos”, fala Augusta Nunes, manicure.

Na favela, Elias construiu a sua história. Na terra escorregadia levantou o seu barraco, instalou a bicicleta ergométrica e se preparou para correr na São Silvestre.

Elias contava com o prêmio para comprar outro barraco e mudar de lá, mas, correndo descalço só chegou 20 minutos depois do primeiro colocado e nessa madrugada o seu barraco desabou.

“A gente saiu um dia antes, saiu de dia e caiu de noite, a gente deveria estar morto”, acredita ele.

Elias olha de longe o espaço vazio onde ficava o seu barraco. Hoje está tudo destruído.

“A São Silvestre eu não ganhei, o barraco eu já perdi, o jeito é ir embora. Não tenho mais condições de ficar”, desabafa ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

""Erótica é a alma""

Adélia Prado