segunda-feira

DESISTÊNCIA E PREGUIÇA


Martha Medeiros


Suzana Vieira e Tony Ramos tiveram, no início da novela Mulheres Apaixonadas, um diálogo interessante. Lorena e Teo, seus personagens, conversavam sobre relações amorosas. Ele dizia à irmã, Lorena, que estava tudo bem entre ele e a mulher, que eles nem brigavam mais. No que ela respondeu: "Cuidado. Parar de brigar não significa acerto, e sim desistência".

Imediatamente me lembrei de outro diálogo, desta vez ocorrido no teatro, na peça Variações Enigmáticas. Um personagem diz que ama muito uma mulher, tanto que está casado com ela há 15 anos. No que o outro responde, provocativo: "Isso não é amor, é preguiça".

Desistência e preguiça. Duas palavrinhas nada românticas, mas que são o sustentáculo de muitos relacionamentos. Primeiro a gente desiste de encontrar fórmulas para fazer a relação evoluir, e uma vez rendidos à apatia, não temos disposição para sair do casamento, vamos ficando por ali mesmo, habituados.

Não vou jogar pedra nos acomodados porque sei que não é fácil abrir mão de situações estabelecidas que não são de todo insustentáveis, ainda que já não sejam apaixonantes. Há diversas variáveis a considerar, sendo a primeira delas: filhos. Quem tem filhos reluta muito antes de se separar, e não faz isso apenas por acomodação, tem a questão da responsabilidade. É tudo, menos fácil.

No entanto, com ou sem crianças a considerar, a verdade é que a vida é só uma, e por isso não pode ser qualquer uma. Tem que ser uma vida que valha a pena, uma vida que privilegie os sentimentos, nossa última arma contra este mundo mais que duro, blindado. Desistência e preguiça não fazem times ganhar partidas, não fazem desempregados ganhar uma vaga, não fazem a gente chegar ao fim de um livro. Qual é o fim da história pra quem joga a toalha? Não tem fim, é uma história apenas com princípio e meio.

Melhor ter um fim. Qualquer fim. Pra poder começar nova vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

""Erótica é a alma""

Adélia Prado