Bianca Alves
Você
não me viu... a intimidade dos anos limitou seus olhos e as minhas falhas se
repetiram em você, o que
era bom se tornou minha obrigação, ficamos burocráticas, concordo, nosso amor
não fez novos ensaios, não cantou novas músicas, compramos panelas,copos, enchemos o guarda-roupas e não cuidamos da gente, o amor de tão certo, tão
claro, foi deixado pra depois, não cuidamos das palavras, não cuidamos da delicadeza,
queríamos casa, filhos e nos descuidamos do que nos levaria a isso, nos
desencontramos, nos desencantamos, nos desconhecemos, o que dói diante de
tamanha constatação do fim, não é o fim, é a estranheza de não sentir mais
nada, deve ser dormência, defesa, não sinto nada, nem raiva, nem amor, dor,
nada, certamente isso vai passar e será só vazio, deve ser assim quando as coisas
que morrem, falta algo, álbuns em branco, cartas extraviadas, existia algo aqui, sei lá, algum
rastro da gente, penso, repenso, estou magoada, não era pra ser assim,me
pergunto em que rua nos perdemos, vejo
sua frieza em zoom, minha falta de atitude em HD e não consigo nem chorar,
estou seca, não acho as sombras do que fomos, constato com tristeza, que mais uma
crença foi desfeita, a vida anda me dando lições dolorosas, nem sempre justas, fim
das ideologias, dos partidos, da história, ídolos e agora, agora, o amor da
minha vida, não segue comigo pela vida, penso e novamente, repenso, será que me tornarei
dura, descrente, você levou o melhor de mim, concluo que só tinha me sobrado
amor e ele também partiu, respiro fundo, tento sentir, refaço o percurso e
nada, não vejo nada, nada que nos salve.
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""Erótica é a alma""
Adélia Prado