segunda-feira

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Bianca Alves


Eu esqueci uma encharpe verde no seu carro, já tem um tempo isso, estou fazendo um exercício de lembrar coisinhas pequenas com grandes significados, é preciso saber como a gente chegou até aqui, é preciso refazer o caminho pra que a gente continue, você levou o encharpe  para o seu quarto, olhou pra ele e cheirou fundo as minhas essências, meu perfume foi dormir contigo e você estranhamente não lembrou de mim, o cheiro era o seu, isso mesmo, na infinidade de cheiros e prateleiras, marcas, frascos, usávamos o mesmo perfume, não estou lembrando cronologicamente, não pretendo remontar nossa história, com início, meio e na esperança humana, romântica, de que não tenha fim, fomos nos descobrindo, nos achando nós escombros, fomos nos tratando, nos curando do passado, nada com propósitos, de propósito, fomos ficando, demorando, morando, quando vi, era sua, com aliança e promessas silenciosas de ficar um pouco mais, fui gostando do seu gosto, dos seus silêncios, das suas mãos rosadas, dos desenhos do seu corpo, da sua pele clara, dos seus carinhos tímidos, é preciso te ler aos poucos, tudo seu é contado, tens uma delicadeza nos gestos, uma doçura nos olhos, fazer sua leitura não é fácil, é preciso ter bagagem, é preciso ter passado pela poesia, pelos românticos, pelos filósofos, é preciso entender o silêncio, é preciso falar com flor, é preciso desconstruir estereótipos, arquétipos, você é uma infinidade de gentes, sua existência confunde, inquieta, será timidez, metidez, será que gosta de mim, foram algumas perguntas que eu fiz ao meu coração quando você chegou, depois de 1 ano, continuo fazendo perguntas e você continua me confundindo, isso me perturba e me fascina, não tenho idéia sobre o fim do livro que estou lendo...
O tempo andou mexendo com a gente, sim, tão acertada essa frase que escolhemos pra se eternizar na gente, pra ultrapassar a gente, já roubamos livros, freqüentamos a feira da Ceilândia e compramos discos, já fizemos viagens e nada superou aquela picanha, já atravessamos a rocinha e abraçamos o Cristo, conhecemos a Macabea de verdade, já tivemos dois cofres, já nos amamos em diferentes quartos, já ensaiamos ir embora, trocamos olhares em terreiros e em igrejinhas, trocamos alianças, ciúmes, livros, já rimos muito e choramos algumas vezes, dormimos poucas vezes sem desejar “Boa noite”, é fato que o tempo anda mexendo com a gente, com o olhar da gente, é fato que conhecemos a dúvida, que o amor nem sempre é emocionante, aflorado, visceral, mudamos, amor...e incrivelmente, continuo amando cada pedacinho seu...'pelo tempo que durar'.

2 comentários:

  1. Anônimo7.3.12

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  2. Anônimo24.3.12

    meu amor ♥

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""Erótica é a alma""

Adélia Prado