quarta-feira

Eles faziam amor e filosofia

Pedaços de Sartre e Simone de Beauvoir

(Sartre, Merleau-Ponty, 1961)

“Seríamos caçadores de sentido, diríamos a verdade sobre o mundo e sobre as nossas vidas. Merleau achava-me otimista: estaria eu assim tão seguro de encontrar em tudo sentido? Ao que eu teria podido responder que o sentido do sem sentido existe e que nos competia descobri-lo. E sei o que ele teria respondido por sua vez: ilumina quanto tu queiras a barbárie, nunca conseguirás dissipar nela a obscuridade. A discussão nunca chegou a dar-se; eu era mais dogmático, ele era mais matizado, mas era uma questão de humor, ou como se costuma dizer, de caráter. Tínhamos ambos um mesmo desejo: sair do túnel, ver a claridade.”


(Simone de Beauvoir, A força da idade, 1960)

“A fraternidade que soldou nossas vidas tornava supérfluos e irrisórios todos os laços que eu e Sartre teríamos podido forjar. Para que, por exemplo, morar sob o mesmo teto se o mundo era nossa propriedade comum? E por que recear circunstâncias entre nós que nunca nos poderiam separar? Um só projeto nos animava: tudo abarcar e testemunhar tudo; ele mandava-nos seguir, em certas condições, caminhos diferentes sem roubarmos um ao outro o mais ínfimo dos nossos achados; juntos, nos dobrávamos às suas exigências, a tal ponto que no próprio momento em que nos dividíamos, nossas vontades confundiam-se. Era o que nos ligava e nos desligava; e, com esse desligamento, nós nos achávamos de novo ligados profundamente.”

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Adélia Prado