segunda-feira

Trecho do Livro: Eu sei que vou te amar

Arnaldo Jabor



- Mulher, me escuta... não é possível, deve haver a possibilidade de um ser humano escutar o outro um dia... eu sempre tenho a sensação que você não me entendeu nunca... ou melhor... eu sempre sinto que fico aquém das palavras... eu nunca consegui me explicar com você... nunca consegui passar o que sinto... o que eu sinto por você... eu queria... eu sei que é loucura... dizer uma palavra e atingir a significação plena... ser entendido, entende?

- Não.

- É o seguinte: deve haver uma palavra que, uma vez dita, muda o mundo... parece que tem um rio no meio de nós dois... e eu falo e não tem rio... aí olho e tem... eu quero dizer a você a verdade... eu te proponho... nada... a verdade é que... eu não sei por que te chamei aqui... acordei de manhã e tinha uma luz elétrica na minha mão... minha mão dava choque e o fone do telefone brilhava e minha mão foi atraída pelo fone e eu tinha que absolutamente te falar... eu tenho alguma coisa para te falar e eu não sei o que é... eu quero te falar uma coisa... mas não sei o que é... quero dizer tudo... quero que minha alma saia pela boca e eu fique estatelado morto aí no tapete feito um atropelado... nu... absolutamente visível... transparente... quero dizer tudo que eu posso para você... e... eu tenho de dar minha alma... que merda de porra de literatura escrota... mas eu não sei o que falar... eu quero...
O que será que ele está querendo?
- Eu não estou querendo nada... só a verdade...
Meu Deus... adivinhou meu pensamento... bobagem... coincidência...

Um comentário:

""Erótica é a alma""

Adélia Prado