sexta-feira

QUANTAS VEZES VOCÊ ASSASSINOU O AMOR?



Cenas do Filme: Closer(Perto demais)...Assista!!!


Fabrício Carpinejar

Eu já errei muito com o amor. Todo mundo erra, mas errei sempre pela mesma causa: procurava no amor o meu reconhecimento. Procurava corrigir o que estava torto em mim e alimentar meu narcisismo.
Queria ser louvado, endeusado, salvo da autocrítica. Amar seria uma vingança ao menino tímido, ao menino feio, ao menino ingênuo. Um escudo para as ofensas que recebi e humilhações que passei. Não me interessava que o amor passasse a limpo meus rascunhos. Tinha a obrigação de queimar o que fui.
As relações não poderiam dar certo. Quem aguarda o elogio, afasta a verdade. Esperava contar com a imunidade amorosa. Não buscava um contraponto, e sim uma religião. Não amava uma mulher, eu me amava a partir dela. Ou me amava pelas suas observações e rituais.
Pensava que o amor fosse esquecer o passado. Não, o amor carrega o passado e ainda separa o lixo seco do orgânico. Amadurecer não consistia em mudar de personalidade, mas conviver com todas as personalidades, inacabadas e falhas.
Fui um sedutor no início de relacionamentos: fácil se apaixonar, fácil o encontro, em que tudo é novidade e interação, em que fazemos vista grossa aos defeitos. Havia resistência em prolongar a união. Ao mínimo sinal de casamento, de escova de dente no mesmo copo, escapava. Porque não admitia que alguém me conhecesse. Eu me conhecia e não gostava de mim, e não desejava que ela me acompanhasse no desgosto. Nem permitia sua aproximação. Fingia gostar de mim no começo, fugia de mim no final.
O amor, na maioria das vezes, não acontece pelo medo que cada um tem de se conhecer. O medo é o mais orgulhoso dos sentimentos. Tente obrigar uma pessoa com claustrofobia ficar num elevador? Tente convencer alguém que não nada a pular numa piscina de cinco metros?
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias e apocalípticas sem recuar. O amor é a boca suja, o beijo na boca suja. O amor não pretende a salvação, o amor nos tortura com as lembranças que não inventamos. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai arejar sua casa, abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua memória. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever. O amor depende de nossa capacidade de enfrentar a honestidade.
Añais Nin está certa quando escreveu que o amor nunca morre de morte natural. Morre porque o matamos ou porque o deixamos morrer. Morre enforcado na mesa, morre esfaqueado pelas costas, morre eletrocutado pela sinceridade, morre atropelado pela grosseria. Não morre de velhice, em paz com a cama e com os olhos.
O amor é assassinado. Assassinado porque o outro conviveu com o nosso lado escuro e não admitimos ter sido menos do que uma promessa. Não admitimos tropeçar e voltar atrás. Não admitimos o fracasso de pedir ajuda. Não admitimos que o nosso sofrimento conheça a alegria da compreensão. Assassinado pela arrogância da dor e pelo orgulho do medo.
Assassinado principalmente no ventre, pois para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.

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""Erótica é a alma""

Adélia Prado