segunda-feira

O Nascimento do prazer

Clarice Lispector
O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer.
A alegria verdadeira não tem explicação possível,
não tem a possibilidade de ser compreendida
- e se parece com o início de uma perdição irrecuperável.
Esse fundir-se total é insuportavelmente bom
- como se a morte fosse o nosso bem maior e final,
só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar-se inundar pela alegria aos poucos
- pois é a vida nascendo.
E quem não tiver força,
que antes cubra cada nervo com uma película protetora,
com uma película de morte para poder tolerar a vida.
Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor,
em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido.
Pois o prazer não é de se brincar com ele.
Ele e nós

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