sexta-feira

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Fabrício Carpinejar Um casal que se une pelos vícios e falhas tem uma vida mais longa do que o casal aproximado pelas virtudes (esse deseja tudo, arde, vive na inconseqüência das opiniões). O marido e a mulher se convertem em álibis, dependentes, ligados pela fraqueza: um escolta o outro, um omite o pior do outro. Há uma complacência que não é nem compaixão nem perdão. Já estão separados, por isso não podem mais se apartar. Não estranham o prazo de validade, muito menos aguçam o sentido da ausência. Sem estranheza, não há intimidade. São imitadores do que deixaram de ser. As brigas e os elogios são feitos no mesmo tom. Até o cachorro da casa se torna monótono. Não experimentam começos, mas apenas dão prosseguimento. Preservam as semelhanças, não perseverando as diferenças. Ao invés de pedir licença para falar, pedem licença para silenciar. Carecendo de capacidade de tomar decisões, representam, se exploram para não ir a compromissos ou para alegar o que não querem. Não há surpresas, e sim sobressaltos. Perde-se a companhia para se ganhar um porta-voz. Esses casais não protegem o amor, porém o segredo que destruiu o amor.

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Adélia Prado