quinta-feira

A RESPOSTA

Fabrício Carpinejar Posso ter demorado para perceber. Não me culpo. Saber antes não me traria nenhum benefício - falta-me jeito para fazer sala à verdade. A mulher não gosta de dar respostas. Explicar, argumentar, avisar, sinalizar, mostrar com o dedo. A vida não pode ser resumida aos três sinais do semáforo. A mulher não deseja ser mãe de seu homem. Não deseja ser professora de seu homem. Não deseja ser tia de seu homem. Muito menos avó, com chá de boldo na cama. Não fica excitada de colocá-lo de castigo. A mulher não deseja que ele concorde, longe disso. Deseja ser compreendida. Se o homem diz que a compreende, por que ela é obrigada a convencê-lo a todo momento? Não tem lógica. A mulher termina enfastiada com a idéia de repetir a mesma ladainha: "você não me entende?" E ele não entende, apressa entender, que é diferente. A mulher deseja silenciar, mas não silenciar um silêncio qualquer, um silêncio ríspido, um silêncio grosseiro, de talher e cabeça baixa, e sim um silêncio satisfeito, um silêncio de orla, um silêncio de calçadão. Quando a mulher se irrita, não lhe falta argumentos, ela apenas desistiu de falar. E o homem pensa que ela enfim aceitou sua opinião. A mulher não deseja dar a resposta, está esperando a reação dele. Nunca que pergunte: "o que está pensando", que é a mortalidade infantil do pensamento. Nunca que reclame ou edite o discurso a seu favor. Não adianta fazer ciúme ou fingir remorso. Teatro amador é na escola. A mulher não deseja dar a resposta, o que não significa que não deseja a resposta. É que responder perde a graça, o entusiasmo, o charme. A mulher joga cabra-cega com a boca. Não é um jogo, um mero resultado, a vida do relacionamento depende dessas poucas palavras. É arriscar ou encenar uma falsa sapiência durante cinco dias, cinco meses, cinco anos até acontecer a separação. A paciência tem limite, ora bolas. Ela não vai ficar dando resposta infinitamente. Tampouco deseja que o homem memorize a resposta. Repetir o que ela falou atesta que ele não estava ouvindo. A tática de reiterar a última frase para fingir atenção não funciona mais. Cansa voltar ao ponto de partida, como se nada tivesse existido antes. É simples. A mulher não deseja dar a resposta. Quer ser antecipada, sonhada, imaginada. Tanto faz que ele erre. Deseja ser sondada, visitada, pressentida. A mulher deseja ser adivinhada. A mulher não deseja a resposta certa, não há resposta certa. Deseja ser a resposta que o homem procura fora dela.

Um comentário:

  1. É esperado de nós, homens e mulheres que tenhamos respostas, que busquemos as respostas para as coisas da vida e para o amor. Respostas são sempre um ponto final de dada situação, e quase sempre frustrantes, gosto mais das pesguntas, elas sempre são o início de uma busca, o começo de alguma coisa nova.

    Gostei muito da casa, escritos interessantes, visual trabalhado, ótimos os fragmentos do diário da Frida.

    Beijos.

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""Erótica é a alma""

Adélia Prado