quarta-feira

Soneto de Arvers


Tenho na alma um segredo e um mistério na vida:
Um amor que nasceu, eterno, num momento.
É sem remédio a dor;
trago-a pois escondida,
E aquela que a causou nem sabe o meu tormento.
Por ela hei de passar, sombra inapercebida,
Sempre a seu lado mas num triste isolamento,
E chegarei ao fim da existência esquecida
Sem nada ousar pedir e sem um só lamento
E ela, que entanto Deus fez terna e complacente,
Há de, por seu caminho, ir surda e indiferente
Ao murmúrio de amor que sempre a seguirá.
A um austero dever piedosamente presa,
Ela dirá lendo estes versos, com certeza:
"Que mulher será esta?"
- e não compreenderá.

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""Erótica é a alma""

Adélia Prado