sexta-feira

A veracidade da manhã

Segundo o dicionário: a palavra Primeva signfica"relativo aos tempos primitivos"

Eric Ponty


Te procuro pelas linhas das nuvens
que sinuosas imitam o teu corpo
a sutileza de tua mão no quotidiano
quando indagas a veracidade da manhã.
Sobre minha angústia transcrita nos cadernos
Sobre minha algaravia perdida no azul
e nas árvores amesquinhadas no urbanismo
Sobre a palavra saber e sobre o ato de ver
Te procuro na sua densidade primeva.
Sobre todas as minhas páginas escritas
Sobre todas as páginas que virei a escrever
Com o meu tédio e minha desilusão e minha cinza
Te procuro na sua densidade primeva.
Sobre os ícones sagrados e agora olvidados
Sobre os tiros perdidos nas batalhas distantes
Sobre o conluio praticado nas mesas dos bordeis
Te procuro na sua densidade primeva.
Sobre a floresta extinta e o deserto obscuro
Sobre os ninhos e as lembranças de um lar
Sobre os ecos dos primeiros habitantes daqui
Te procuro na sua densidade primeva.
Sobre as sombras das noites e seus contornos
Sobre o teu olhar sempre quente e visível
Sobre as estações que iluminam nosso ano
Te procuro na sua densidade primeva.
Sobre estes campos sobre este crepúsculo
Sobre as asas dos pássaros de aço fundidos
E sobre memórias dos pilotos agora findosT
e procuro na sua densidade primeva.
Sobre cada linha sobre o compasso que a fez
Sobre o murmuro sobre os viajantes vindos
Sobre a existência inventada rotineira nos lençóis
Te procuro na sua densidade primeva.
Sobre o nome de um pintor jamais conhecido
Sobre as sinfonias das tempestades
que sussurram a letra inicial de teu nome
Te procuro na sua densidade primeva.
Sobre a ausência do clamor do cotidiano
Sobre a solidão das coisas mais medíocres
Sobre as marcas expostas ao enfado
Te procuro na sua densidade primeva.
E pela necessidade primeva
de te encontrar tua densidade
na minha solidão percorrer estas linhas
cujos contornos lembram as serra
se cuja brancura lembram o leite
e cuja face lembra a de uma rapariga portuguesa
e cuja manhã assustada pelo teu olhar
se inibe fazendo-se cobrir pelo branco véu da neblina
eu me calo neste poema para ouvir
e te sentir através de sua fala e do seu movimento interno
ao me ler nestas linhas.

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