quarta-feira

Um


Nelson Botter

Me imprimo em você. Não como uma tatuagem, nada disso, não sou desenho, sou
desejo, pois quero mergulhar em tua pele, invadir seus poros na calada da
noite, ser um gatuno cupido, e navegar por sua corrente sangüínea, repousando
em seu coração. De lá não quero mais sair. Nunca mais. Sempre mais.

E quero sentir a rígida maciez da superfície rosada da sua língua, carne
deliciosa e inquieta, molhando cada centímetro do meu corpo, examinando minhas
curvas, buscando entradas, como uma serpente à procura do ninho, vagando sem
destino nem pressa. Nesses momentos eu sou você. E sou sempre mais você.

A cada abraço a sensação de que os corpos se imprimem, se colam, fotocópias
anatômicas de anatomia. Quero o sabor do seu sexo, bem quentinho, pulsando,
jorrando, e também quero o cheiro do seu suor salgado, a vida que se esvai a
cada segundo, mas que nos preenche e nos faz ganhar do tempo. Quero você e me
quero em você.



Se a vida é momento, se viver é sofrer, se não há explicação para o que já se
tentou explicar, pouco importa agora, quero luxúria, meu pecado favorito, quero
você. Seu seio é vida, seu gozo é minha razão de viver, mas a distância é
sofrer. Vem, chega mais, fique perto, me cante o rumo, o nosso rumo. Quero me
colar em você, a tal da impressão que eu não soube explicar, que talvez seja
apenas uma forma de me agarrar na sua alma, um simples medo de cair no meio da
jornada e me perder... E se for pra me perder, que seja em você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

""Erótica é a alma""

Adélia Prado