sexta-feira

OS PRÉ-EXISTENTES

Uns mais, outros menos, todos sentem ciúmes. Como não temos laços de sangue com o amorzão, há sempre a iminência da perda, que geralmente se dá com a entrada em cena de outra pessoa. São esses invasores que põem em xeque a nossa felicidade. Você tem um relacionamento de alguns anos e de repente seu namorado, ou marido, ou seja lá com quem você racha as contas, conhece uma mulher no escritório. Começam um bate-papo desinteressado, até que um belo dia resolvem tomar um chope juntos. Perigo à vista. Tão perigoso quanto se ele reencontrasse aquela ex-namorada por quem foi apaixonado na adolescência, aquela que tirou o sono dele incontáveis vezes, aquela que ele guardava a foto escondida dentro de um livro do Drummond. Agora me diga: de quem você sentiria mais ciúmes, da nova colega de trabalho ou da ex? Eu, da colega. Sei que alguns não compartilham essa idéia comigo, mas as relações que me anteceram não me geram tanta ansiedade. As ex-namoradas dele não competem comigo. Surgiram quando eu não existia. Tiveram seu significado, sua importância, e de certa forma merecem sua foto guardada nas páginas de um livro. Se acontecer alguma recaída, será apenas isso, uma recaída. Claro que a gente se rói se ficar sabendo, mas o risco é bem menor do que causam as que surgiram depois. Estas entraram em cena quando a gente já estava no posto. Estão suprindo alguma deficiência nossa ou da relação. Têm a seu favor um rosto novo, um gosto novo, um cheiro novo. Elas significam pra nós o que nós um dia significamos para a ex dele: uma ameaça. Há quem pense o contrário: a ex dele ou o ex dela (a teoria serve para ambos os sexos) é que geram mais ciúmes, pois temos certeza de que estes já foram amados pelo nosso parceiro, enquanto que as novidades podem não vingar. Well, well, melhor mesmo é que não apareçam nem os fantasmas do passado nem as projeções do futuro, e que todos fiquem onde estão, felizes no presente. Mas se eu tivesse que escolher entre uma recaída dele com a ex ou uma paixonite nova, eu ficava com a pré-existente, aquela que chegou antes de mim, pois ali já houve um desgaste. A que chega depois vem sem contra-indicação.

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""Erótica é a alma""

Adélia Prado