terça-feira

O amor


VLADIMIR MAIAKOVSKI

Um dia, quem sabe, ela,
que também gostava de bichos,
apareça numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo,
hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século ultrapassará o exame de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então, de todo amor não terminado seremos pagos em inumeráveis noites de estrelas. Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que,
maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia, que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver livre dos nichos das casas.
Para que doravante a família seja o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.

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