Bianca Alves
Toda mulher escreve nua, toda mulher sangra, todo sangue
prepara, para o parto, para o rebento, para as partidas, toda mulher conhece bem
de perto a morte, toda morte traí, nunca é elegante partir pra sempre, adeus é
uma ausência de deus, somos americanos demais para aceitar que caminhamos sem
um deus, seja lá ele quem for.
Toda mulher morre de pé, algumas de salto, na
tentativa de enganar a morte deitada.
Toda mulher simula ser o sexo frágil,
sensibilidade dentro, sensibilidade fora, fortalece, vira crosta, o amor sempre
foi para os fortes, chorar alto, se derramar para estranhos, foi sempre matéria
de quem vive exposto, quartos escuros são para os fracos, mulher chora no ônibus,
no bar, na praça, atravessando a rodoviária em meio a olhos curiosos, ela rompe
a multidão e fica ainda mais linda, sua dor é acessório de luxo, mulher não ama
em segredo, tudo nela fala dele(a), as novas cores, o novo corte, o espelho na
bolsa, o novo jeito de tocar o chão, somos mistérios previsíveis, toda mulher
está em braile(toque), é preciso adivinhação e delicadeza para uma leitura precisa, é
preciso tocar pra tirar acordes claros, muito além da cama, toda mulher carrega
o gozo do encontro por dias, a permanência da palavra, dos beijos, dos
cheiros,demoram.
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""Erótica é a alma""
Adélia Prado