Bianca Alves
Coloquei as memórias na mala e levei no corpo o cheiro que
já morou nos seus travesseiros...
6h26, da manhã, tá frio na rodoviária, o ônibus encosta, meu
acento é o numero 7, tento lembrar o porquê da escolha, faço relações com a
sorte e chego à conclusão que estou no mês 7, gosto. Acomodo-me na cadeira,
estico as pernas e não alcanço o assoalho, fico rindo, coloco os fones nada
discretos, alaranjados e escolho uma playslist para te ver. Penso na minha coragem, fico orgulhosa, depois
de longos anos, vou enfrentar você, vou enfrentar o meu amor, como as pontas
dos dedos por falta de unha, olho a estrada, ainda é cedo, será que você está
acordada, sei que nos aproximamos, já ficamos tão distantes, falta pouco, menos
de 1 hora, minha boca seca, minhas mãos estão molhadas, tenho dificuldade pra
passar as folhas do livro, ele não me distrai, tem um amor bonito nas páginas,
mas fora delas tem um amor real que segura às lágrimas, vou te tocar de novo,
penso. Faz frio, faz calor, estou com medo. Vou dormir, pode passar mais rápido, não quero
que seja rápido, estou inquieta, olho para o céu, ela já foi meu céu.
Será que mudamos muito? Vamos nos reconhecer? Seus braços
vão enlaçar meu corpo novamente? Você vai brincar com as pintas na minha nuca? Se
curvar pra beijar meus lábios? Vamos nos estranhar? Você ainda vai doer em mim?
Vejo a rodoviária, tudo se repete, agora não é medo, não sei
explicar, levanto apressada, minha mala pesa, não sinto as pernas, não sinto
nada, desço os degraus e não te vejo, passo os olhos pelas pessoas, nada de você,
nada dos seus cabelos, seu corpo longínquo, suas sandálias de couro, tenho
pressa. Você me manda uma mensagem,” onde você tá?” respondo com os dedos trêmulos
“tô aqui em frente ao bus e você”, resposta...” do outro lado, estou indo”, pronto,
estamos próximas, suspiro, cato o ar, encho os pulmões de gasolina, um corredor
nos separa, vou ao seu encontro, nossos olhos se falam, te vejo em câmera lenta,
incrivelmente mais bela, você me sorri saudades, nos reconhecemos, nos
abraçamos, mergulho nos seus cabelos pretos e me sinto em casa. Meus lábios caçam
os seus, nada parece estranho depois de tanto tempo, nossas mãos já se entendem
e não se largam mais, compramos nossas passagens, esquecemos os olhos curiosos no
ônibus e nos entendemos com a boca, com as mãos, sorrimos e ganhamos a estrada,
você encosta no meu peito e eu em silêncio agradeço a Deus.
Pisamos na terra de Cora e com poesia nos amamos, invadimos
o quarto e nos despimos de tudo, numa fome de anos...Assim, fizemos amor e ficamos em paz com o
mundo....
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""Erótica é a alma""
Adélia Prado