sexta-feira

Tornar eterno

Bianca Alves
Segundo a poetiza, mineira, mulher, religiosa e *amante, Adélia Prado, é possível amar alguém com uma memória eterna, intocável, “O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível” tem um bom tempo que eu conheço essa poesia ,' Para o Zé', ela sempre falou comigo e é claro que eu já vivi coisas e cenas permanentes (sorrisos, choros, beijos, promessas) e elas repousaram em mim e com o tempo adormeceram e atingiram o esquecimento, o nada.
Para o escritor tcheco, Milan Kundera, do livro - A insustentável leveza do ser, uma das muitas bíblias literárias que carrego (já que fui convertida pela literatura). “Parece que existe no cérebro uma zona perfeitamente específica que poderia chamar-se memória poética e que registra aquilo que nos encantou, aquilo que nos comoveu aquilo que dá à nossa vida a sua beleza própria. (...) O amor começa como uma metáfora. Ou, por outras palavras, o amor começa no preciso instante em que, com umas das suas palavras, uma mulher se inscreve na nossa memória poética.” Eu sempre compreendi a força desse trecho, do livro (leia) e de como o outro se eterniza e demora na gente, é sim possível congelar, paralisar e fotografar a poesia por meio dessa memória terna, eterna. No livro isso acontece quando Tereza adormece na cama de Tomas, depois do amor, ela se mostra frágil, doente e agarra as mãos de Tomas com uma força, como se ele pudesse protege – lá, salva-lá. Ele(Tomas) já não consegue dormir perturbado pela cena e pela beleza daquele ser estranho, frágil, repousando na cama em que ele nunca tinha deixado uma mulher adormecer “... deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher).” Sem saber ali naquele quarto eles se tornaram eternos. Toda essa explanação, divagação sobre nossas memórias poéticas é só pra tentar explicar como você me tocou por meio de uma cena, uma cena que eu não vi, não toquei, você apenas descreveu sobre sua rotina e aquilo me perturbou tanto e a noite se fez longa e foi assim que você se eternizou em mim “estou em casa só, com tinta no corpo entre tecidos, linhas e agulhas, com Beatles na vitrola e te querendo muito em meio a tudo isso.” Vou atravessar a vida pensando nessa cena.

* Definição poética para amante: "Aqueles que se amam. Os amantes, separados pela distância, sentem saudades... Alegram-se com a memória do rosto da pessoa amada." Rubem Alves

Um comentário:

  1. VocÊ e o seu dom de me deixar sem saber o que dizer... fico querendo só entrar em mim e sentir de perto , bem perto tudo o que você me provoca !!

    ResponderExcluir

""Erótica é a alma""

Adélia Prado