quarta-feira

Um estranho me habita

Bianca Alves
Escolho te esquecer diariamente
Logo pela manhã
Mas quando chega a noite percebo que não tenho escolhas
e você continua aqui.

O amor não é democrático, não é educado, não tem horário
não marca datas para ir embora, não pede autorização, permissão
não respeita credos, raças, sexos
o amor não arruma malas, nem as guarda para eventuais saídas
fala uma língua estranha, inventada
desfaz planos, aparece sempre em lugares inusitados, quase inabitáveis
nos torna inseguros, infantis
o amor rasga livros, diplomas, fórmulas, nos torna analfabetos sentimentais
sorri das nossas vestes, das nossas máscaras, ideologias, não somos no amor
o amor é quase surdo, só escuta o ser amado, nada de opiniões alheias, contrarias
ele chora em público e alto
o amor não faz amigos, faz confidentes leais
o amor nunca escolhe o lado da cama, aceita tudo com uma fé imperecível
o amor é um assassino, mata, aniquila, extermina qualquer outra possibilidade
o amor não decorra poesias, tudo é improvisado, não se repete nada no amor
o amor canoniza humanos cheios de pecados, vícios
pede esmolas, pois é cego
o amor eterniza, reinventa canções
carrega o outro no colo sem peso
o amor é um andarilho, não nos escuta quando o pedimos pra ficar um pouco mais
é independente, rebelde, desapegado, livre
o amor não se despede
abre a porta e vai sem medo chorar num quarto escuro
sente que podia ter ficado mais
MAS
ele não existe sem o outro
por isso vai embora carregando a dor do mundo num ventre vazio.

Um comentário:

  1. Anônimo17.1.09

    Maravilhoso! Acompanho o seu blog tem um tempão. É chato ver o tamanho da sua dor, acho que quem te provocou isso tem problemas. É tão direta a forma que você escreve pra essa pessoa. Vou torcer pra ver coisas mais alegres aqui, não te conheço mas sei que você merece mais do amor.

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""Erótica é a alma""

Adélia Prado