Sidnei Schneider
Entre os dedos ela ensaia meus cabelos.
Traça à mão o formato do pescoço.
Claro que percebe todos os arrepios.
Prende a respiração nos olhos azuis
E, por cuidado, redobra em carinhos
O que cega saberia bem fazer.
Dona dessa precisão felina da mulher,
Tapeia água perfumada nos meus flancos.
Só a gelada navalha supera sua tesoura.
Banha-me três vezes a cabeça porque quer.
Assinto que é muito relaxante.
“Que bom”, ela agradece recompensada.
Rodeia-me sem levantar a cadeira.
Seu peito arfa inclinado sobre mim.
Desculpa-se com a colega: esquecimento.
Não sei se olho sua pele, olhos ou ventre.
Compreendo então que ela fala com as mãos
e me permito, inteiro, ao seu tato.
Já temos algo em comum. Cúmplices
no que ainda não se tornou palavra.
Abana com os cílios quando lhe dou adeus.
(De Plano de Navegação)
Traça à mão o formato do pescoço.
Claro que percebe todos os arrepios.
Prende a respiração nos olhos azuis
E, por cuidado, redobra em carinhos
O que cega saberia bem fazer.
Dona dessa precisão felina da mulher,
Tapeia água perfumada nos meus flancos.
Só a gelada navalha supera sua tesoura.
Banha-me três vezes a cabeça porque quer.
Assinto que é muito relaxante.
“Que bom”, ela agradece recompensada.
Rodeia-me sem levantar a cadeira.
Seu peito arfa inclinado sobre mim.
Desculpa-se com a colega: esquecimento.
Não sei se olho sua pele, olhos ou ventre.
Compreendo então que ela fala com as mãos
e me permito, inteiro, ao seu tato.
Já temos algo em comum. Cúmplices
no que ainda não se tornou palavra.
Abana com os cílios quando lhe dou adeus.
(De Plano de Navegação)
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Adélia Prado